domingo, 30 de dezembro de 2012

Quem acredita na Astrologia?

Quem acredita na Astrologia?
©Joaquim Palminha Silva

Conheço pessoas (homens e mulheres) com alguma formação cultural acima da média que sendo “convictamente” não crentes ou indiferentes às religiões (ou assim supondo), em particular a Católica Apostólica e Romana, que se debruçam piamente sobre a Astrologiae com respeitosa reverência a ela se entregam, julgando viver algo parecido com a ! Mais insólito: - Dedicam-lhe tempo, gastam dinheiro em publicações da“especialidade”, chegam a frequentar o “consultório” de astrólogos da moda (Lisboa), onde esperam com ansiedade o “especialista” que, com base na situação dos astros no mês e hora do nascimento, lhe fazem o prognóstico sobre a sua vida para o ano que começa.
           
Em 1956, o filósofo e musicólogo alemão Theodor W. Adorno (1903-1969), fundador da «escola de Frankfurt» com Max Hokheimer, publicou uma obra curiosa e bastante útil, esclarecedora sobre Astrologia, com o título sugestivo e hoje mais do que actual: Estrelas por Medida.
           
Desmontar a manipulação de “almas” a que se presta o uso da Astrologia é trabalho antipático que, estou em crer, não irá beneficiar do entusiasmo público. Porém, nos tempos actuais em que novamente campeia a barbárie cultural, o nivelamento “democrático” cultural (por baixo!), é obra de utilidade pública arriscar o desagrado das maiorias.
           
Segundo Adorno, a base cultural da Astrologia, e também o motivo do seu sucesso, é a sua total ausência de relação entre duas ordens de conhecimento: - O conhecimento Astronómico, propriamente dito, que estuda as leis e os movimentos dos corpos celestes, e o conhecimento da vida humana, isto é, a situação social, económica, cultural, religiosa, etc., que determina o caminho percorrido e a percorrer pelas sociedades e, inseridos no seu seio, pelos indivíduos singulares.
           
A “relação” que a Astrologia estabelece entre estas duas ordens de conhecimento, pretende proporcionar uma aparência de justificação entre elas, camuflando-se, assim, sob a forma de conhecimento misterioso, insinuando que este último mergulha no mais remoto passado… e vai para além da ciência.
           
Na realidade, a Astrologia não é capaz de justificar de forma alguma as conexões que estabelece entre o movimento dos astros e o comportamento da sociedade humana. Por esta razão, para Adorno, a Astrologia é falsa e, mais ainda, psicótica, dado que reforça o sentimento da fatalidade e de dependência dos seres humanos, paralisando-lhes a vontade de mudar as condições materiais e culturais da sociedade, além de relegar todas as preocupações humanas para o plano privado, promovendo assim o individualismo, o egoísmo!
           
Em conclusão, refere Adorno que «a astrologia deve ser considerada o modelo, a escala reduzida, de uma exploração social, exercida a uma escala muito mais vasta, da predisposição para a paranoia».
           
Na realidade, o Homem nunca consegue ver com exactidão o que o futuro lhe reserva, e até a própria ciência, embora capaz de prever o movimento geral dos fenómenos, nada pode garantir sobre o futuro de uma pessoa singular.
           
A necessidade de alguma medida de previsão, ainda que aproximativa e incerta, é um irresistível desejo inerente à condição humana. A esta necessidade responde a Astrologia desde há muitos séculos, embora hoje felizmente não pretenda fazer-se passar por ciência.
           
Adorno tem toda a razão, todavia“ignorou” os motivos humanos que determinam o sucesso da Astrologia. Se estivesse imbuído do “espírito” da Antropologia, talvez não ajuizasse de forma tão radical. Na actualidade, e de uma forma geral, os conselhos dos astrólogos com toda a sua panóplia, signos do Zodíaco, etc., nada têm de maligno nem perverso, pois inspiram-se, de resto, na sabedoria popular que apenas visa dar um pouco de coragem e firmeza na acção a levar a cabo, bem como a reflectir melhor acerca de situações difíceis da vida particular de cada um. Poderemos dizer, sem risco de exagerar, que a Astrologia assenta na unidade primordial (às vezes esquecida pelos eruditos) entre o Homem e a Natureza.
           
Enfim, munidos de um razoável adagiário popular, de um cuidado livro com recolha de ditados populares portugueses(mesmo quando alguns se contradizem!), poderemos poupar o nosso dinheiro e evitar de ouvir as patranhas, mais ou menos engenhosas, do astrólogo do bairro!
           
Lá diz o rifoneiro do povo: «Feliz é quem só quer o que pode, e só faz o que deve!».

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