quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

DESTRUIÇÕES

 
Destruições!

©Joaquim Palminha Silva

 


Pormenores do chafariz seiscentista (e espaço vizinho), bem como “troço” do Aqueduto da Água de Prata (?) no largo face à Porta de Alconchel, outrora abastecedor de água para o
... Convento dos Remédios (desde 1619), tudo demolido escusadamente em 1973, por “imperativos” de urbanização municipal (?). Durante séculos, e antes da construção da igreja do colégio salesiano, este era o panorama que se oferecia ao habitante da cidade (fotografia de Marcolino Silva, década de 60 do século XX, Arquivo Fotográfico Municipal).

Entre as inumeráveis pobrezas que hoje entristecem e curvam a existência dos poucos habitantes da cidade, a pobreza de esperança não é a menor das calamidades… Dado que é superada pela quantidade de pessoas disformes de espírito, supérfluos incuráveis, que paulatinamente se espalharam pelo Poder autárquico “democrático”, bem como pelas sucursais do Poder central, fundações (privadas) disto e daquilo e associações onde se fabrica a solidariedade social, com gestão bem paga e ajudas de custo! Enfim, a cidade encheu-se, durante os últimos dois séculos de mandantes diplomados, quase de pais para filhos em linha recta, que repetem em cada vinte palavras que são “pessoas de bem”…e não se enxergam, os tontos!

Os mortos antigos (e não só os históricos), o granito de muralhas e casario, muitas vezes secular e milenar, com vergonha e angústia, contemplam todos os dias os mandantes vivos da cidade, que parasitam e adulterarem o património a seu favor, incapazes de construírem algo semelhante ao que eles, defuntos e respectivo passado histórico, ergueram no seu tempo.

Para os conscientes que sofrem estes mandantes, reprimir o vómito e a indignação torna-se cada vez mais difícil, enquanto assistimos impotentes ao alastrar da ignorância pretensiosa e da desfaçatez, às destruições e desvirtuamentos do património, a par com a arrogância pública, a impunidade, a conivência entusiasta ou silêncio pianinho de alguma imprensa e rádios locais que, em vez de servirem a cidadania denunciando as “frinchas” e os cangalhos desconjuntados, são arautos louvaminheiros das “tribos mandantes”, escrevendo e imprimindo péssima prosa, emplastrada de banalidades.


Enfim, pelo menos desde há um século, os mandantes de Évora, que falam em património recuperado, dividem-se em dois partidos que nada têm que ver com a política, mas sim com a idiotia e o cabotinismo: 1) o partido dos que querem modernizar o “tecido urbano”, custe o custar, e se explicaram paulatinamente através do derrube de caixas de água do Aqueduto, do edifício “manuelino” dos Paços do Concelho na Praça de Giraldo, ou da destruição de telheiro quinhentista, lateral a uma das entradas Palácio dos condes de Basto, com a inconsequente construção de uma “pala” em betão, etc.; 2) o partido dos que, embora acanhados, lá fazem alguma coisa aqui, restauram ali, conseguem “verbas” para acudir acolá, mesmo ouvindo o realejo do “progresso”, ainda alcançam ser amantes do património “acima de tudo”, revirando os olhos em espasmos (ai!) teatrais sempre que se fala na UNESCO!

Em homenagem aos 25 anos de cidade património da Humanidade, aqui deixamos pró-memória umas fotos de um conjunto escusadamente destruído, em vez de recuperado e devidamente enquadrado. Saiba-se que os padres salesianos do colégio à Porta de Alconchel, nada tiveram que ver com essa destruição que, de resto, também os surpreendeu na época.

Por isso, quando uma Fundação, ignorando a Cidade, despende um brilho duro e uma feroz arrogância, destruindo a seu prazer património de séculos e construindo uma pala em betão, é útil que se saiba que esta “intelectualidade da tanga”, estes mandantes de cultura periclitante tem tradição e tem história em Évora!


Estes mandantes, cuja vida da inteligência é pedra no fundo de um poço, podem ser desalojados do Poder, democraticamente, saiba-se!


 
 

Estrada de Lisboa logo após a Porta de Alconchel, chafariz seiscentista e casario, complexo hoje desaparecido, que viu surgir (à direita na foto) o espaço do colégio salesiano (fotografia dos anos 60, da autoria de Marcolino Silva, Arquivo Fotográfico Municipal).



Dois pormenores do mesmo espaço (na mesma data).
 
Texto do nosso amigo Dr. Palminha Silva, publicado em "MAIS ÉVORA"

 

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