sexta-feira, 6 de maio de 2011

"E O HERÓI SOU EU?" Conte MANUEL LUIS BÁRBARA

E O HERÓI SOU EU?



Conto Politiqueiro

Por:

Desirmanado


Hellô!

Hellllôôô!!!

Deu-me uma tremedeira. O convés parecia estar cada vez mais escorregadio e a tremedeira era cada vez maior.

HELLLLÔÔÔÔÔ!!!!.

Fui parar de calhostras ao chão.

- Porra! Porra pr’a cama!

Quem é que me manda a mim comprar uma cama com despertador incorporado?

Quem é que me manda a mim que essa f.d.p. da cama ao fim de 5 tempos de despertar me atire para fora dos lençóis? Porra quem me mandou a mim?????

Sentei-me na beira da maldita, ainda assim não fosse a malvada fazer cangocha e pôr-me outra vez de quatro no chão.

- Qué lá isso malvada? Pago-te e pões-te aos pinchos? Mil euros me custaste tu! Mil eurinhos! Pr’a quê? Para me embalares! Para me deixares dormir a sono solto! Para me dares bons sonhos e para me acordares quando eu acabasse de dormir. Se quisesse despertar a horas bastava-me o despertador píu-píu electrónico que me acompanhou já metade da vida e é muito mais maleável do que tu… Pois é verdade, por isso é que eu te trouxe cá para casa. Pois foi, lembro-me agora, espetei com o píu-píu na parede, nem o bico se aproveitou. E a chatice que foi com os gajos da reciclagem, o bom e o bonito quando o robô do lixo lhes comunicou que o píu-píu estava todo desmazelado. UUUUUUU!!!! Queriam que eu pagasse e sujeito a multa e que mais prisão e já vais ver que nem um santo te acode…, pata que os pôs. Mas mamaram a versão oficial, e tal e coiso: “você veja lá, ia a levantar-me cheio de vontade de ir trabalhar, o piu-piu naturalmente também quis ir atrás de mim, saltou para o chão, não tive culpa que se tivesse metido debaixo dos meus pés! Estas máquinas revolucionárias às vezes tem coisas… naturalmente queria ir comigo para o trabalho. Sei lá!”

Um dos gajos, que tinha uma ganforina à Flausino, olhou para mim bispando-me de cima a baixo, com cara de bite fundido rouquejou, mas conteve-se. A cangalhada dos bons costumes, esses fraldisqueiros que metem o nariz em tudo quanto gastamos e o lixo que fazemos, (estou desconfiado que puseram censores na casa de banho para pesar o que resta do quilo), para contabilizarem a pegada ecológica, conceito inventado pelo meu avô aqui há oitenta anos atrás. Olha agora! Toda a gente tem que dar parte de quantas embalagens de tetrapac enviou para a reciclagem, com quantos molhos de espinafres é que se alambazou, se deitou os caroços dos pêssegos fora se os deglutiu, se escorropichou bem as garrafas de água, se partiu as garrafas de vidro todas aos bocadinhos para serem recolhidas e imediatamente postas no forno de vidro…

E daquela vez em que a garrafa se partiu? Meu rico vinho, que na pesagem que fizeram dos cacos quando os fui reciclar, aqui d’el-rei que a pesagem não dá com o número de garrafas que comprou, agora tas tramado, escondeste material de refugo, tens que pagar o que vai custar à humanidade esse caco de vidro. Calma homenzinho, (um gajo com umas fuças porcinas por demais adequadas à função), calma que eu vou a casa, armado de lupa e microscópio se isso for necessário, e já lhe trago essa jóia de vidro que falta no tesouro. O porcino olhou para mim sem ter muito a certeza se eu estava a desfrutar com ele ou falava a sério, ainda estive para lhe dizer que estava a pensar bem.

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