sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inicio do livro "O Fauno O Médico e a Internet" de MANUEL LUIS BARBARA


Democrainternete

Sou Eleitor Profissional.

É uma das mais prestigiadas profissões do século XXI.

Depois da internet se ter firmado como o principal meio de comunicação, permitindo que tudo e todos estivessem à distância do gesto de clicar em qualquer rato ou dispositivo que o substituísse, fosse ele de que feitio fosse, a internet tomou conta em definitivo de política nos idos anos de 2030.

Alguns anos antes, Desde a segunda década deste século, que as votações se faziam a partir dos nossos terminais pessoais.

Os resultados das votações eram fáceis de apurar e os resultados imediatamente aplicados.

Uma coisa levou às outras todas, e, ao sabor desta facilidade, alguns governos duraram até à primeira medida que desagradou à maioria dos votantes.

Os votantes passaram a ter um papel tremendo e um poder extraordinário na coisa pública.

A profissionalização dos votantes foi uma situação incontornável.

A quantidade de documentos produzidos pelos governos, pelos partidos que os sustentam, e pelas mais variadas oposições, lóbis, sindicatos etc. levou a que alguns de nós, votantes comuns, nos tivéssemos dedicado a tempo inteiro a esta tarefa quase sobre-humana de ler todos os textos que vão sendo produzidos. Tornamo-nos Eleitores Profissionais.

Claro que nós não valemos só o nosso voto!

Muitos votantes comuns contam connosco para decidirem qual o seu sentido de voto. Nós trocamos por miúdos, por assim dizer, o que os detentores do poder emitem. Mas, ainda mais do que isso, comparamos o que todos eles dizem, fazemos análises por categorias do que é emitido e, atenção, tentamos lobrigar nas entrelinhas as mentiras possíveis.

Claro que tivemos que nos profissionalizar!

Doutra forma, não podíamos nem orientar os outros com a nossa verdade, nem sustentarmo-nos e às nossas famílias.

Assim tudo se arranjou a contento, o parlamento nacional tem vinte e um deputados e quatro senadores. Os últimos são nomeados pelo presidente do parlamento. Chegou-se a esta solução para que as maiorias fossem mais fáceis de conseguir. Os senadores, ou são antigos deputados ou eleitores profissionais que durante um determinado período ficam ao serviço da assembleia virtual, requisitados pelo presidente da mesma.

Desejar-se-ia que estes senadores fossem independentes e fizessem pender as votações na assembleia para o lado que tivesse mais razão e que melhor Leis apresentasse para o bem comum.

Na assembleia estão representados cinco partidos, nenhum têm a maioria, por isso os senadores são tão importantes e tão adulados.

A assembleia inicia-se quando existe quórum. Mas têm uma particularidade, o primeiro dos deputados que ligar o seu terminal inicia a sessão como seu presidente. Presidente Por Primeiro Chegar (PPPC).

Pelo menos até à primeira votação do dia. Se conseguir a maioria de votos será Presidente até ao fim da sessão, se não… dá o lugar a outro.

É claro, que ser Presidente Por Primeiro Chegar, dá vantagens.

O PPPC controla os acessos e, claro, que vai manobrar no sentido de só permitir que os “outros” (designação genérica porque são referenciados todos os deputados que não são dos “nossos”), acedam aos terminais, só depois do quórum ter sido estabelecido e o Presidente por Primeiro Chegar, ser eleito Presidente Efectivamente Presidente (PEP).

Já não é assim com o Executivo do Território (ET). Quando cai uma Assembleia, mercê dos votos dos eleitores que no momento estão ligados, há logo uma votação para nova Assembleia.

E como o Executivo do Território depende da Assembleia, se o partido que sustenta o ET for derrotado “adeus ó vindima”, o ET vai ao ar e é logo substituído por outro assim que a nova assembleia for votada e tomar assento, que é como quem diz que os deputados eleitos liguem os seus ecrãs. Mas para alguém ganhar, são necessários cinquenta por cento mais um dos votos descarregados.

É nestas circunstâncias que eu, modéstia à parte, e uns poucos mais com o meu estatuto, chamamos as massas a votar.

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