A nobreza dos espinhos
Do conjunto dos adágios populares
que ocasionalmente nos dão a medida da subtileza da antiga sabedoria, por vezes
obras-primas da evidência que se ignora por ser óbvia, há um que se fixou para
sempre como um dogma: - Não há rosas sem espinhos!
Tenho para mim que nesta tradicional
“sentença” sobre as rosas e os espinhos, há um erro de base que consiste na
avaliação superficial dos mérito e valor de uma (rosa) e de outro (espinho). Os
ditados populares, muito debruçados sobre evidências, isto é, sobre as
aparências, esquecem as mais das vezes o que está para lá do olhar vulgar, de
superfície, demonstrando-se incapazes de ver o mundo com o profundo “olhar” da
consciência, da memória histórica e da experiência.
Depois das rosas se finarem, os
espinhos conservam a sua rígida posição, têm mesmo qualquer coisa de nobre,
elegante e puro na sua firmeza. No passado, úteis e práticos eram os espinhos
das silvas para guarda dos campos cultivados, dos terrenos de plantação de
vinha, defendendo assim os frutos amadurados.
As rosas, coitadas, são usadas para
fins mundanos, nem sempre puros e honestos. Pobres flores espaventosas, as
rosas têm servido para disfarçar intenções e ludibriar os sentimentos.
Os espinhos não se prestam a nada
que não seja nobre e recto, não admitem coloridas máscaras, mostram o seu rosto
a toda a gente, e se estão “destinados” a picar esta ou aquela mão, fazem-no
sem disfarces!
Não devemos esquecer que foram os
espinhos (não as roas), sob a forma de coroa, que tiveram a honra de cingir a
cabeça de Jesus Cristo!
Os espinhos podem ser impertinentes,
é verdade: - Mas a verdadeira vida é impertinente e espinhosa!
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