Convento de Santa
Clara
O Convento de Santa Clara de freiras clarissas,
segunda Ordem criada por S.Francisco de Assis, foi fundada em 1452, em terrenos
situados na antiga Rua de Alconchel e habitações desocupadas que haviam
pertencido aos paços dos Falcões. Sob a protecção do bispo de Évora, D.Vasco
Perdigão, a comunidade de freiras tomou posse da mansão religiosa em 1459.
A aprovação da Santa Sé e a consagração da igreja só
vieram a acontecer em 1464, através dos bons ofícios do prelado D. Jorge da
Costa (célebre Cardeal Alpedrinha). Convento assistido pela grande nobreza do
Reino e região, serviu de refúgio à princesa D.Joana, desventurada herdeira de
Henrique IV de Castela, (dita a «excelente senhora»), escorraçada de Espanha, bem como a uma irmã
de D.Sancho Manuel, conde de Vila Flor, a abadessa D.Brites de Almeida e
D.Maria Manuel, também abadessa oriunda da grande nobreza, que se tornou
conhecida por ter abandonado um farto e rico morgado para viver em santa humildade na clausura.
A igreja que hoje visitamos é de reconstrução do
primitivo templo e data dos finais do século XVI, tendo-se perdido não se sabe
como (?) uma grande composição plástica, encomendada pelo bispo fundador ao
pintor Álvaro Gonçalves. Em 1592, o comunidade religiosa encomendou ao artista
eborense Francisco João, para colocar na capela-mor, um grande painel sobre a
vida de Santa Clara, que acabou por ser retirado durante as obras de restauro
que no século XVIII (1744) se efectuaram no templo e, pensamos, ainda deve
existir
Templo do século XVI, obra dos finais do barroco, foi
concebido segundo a regra clarissa determinada pelo Concilio de Trento. Templo
de uma só nave com abóbada então completamente de composições de pintura a
fresco, sobre a história mariana e biografia da padroeira. A igreja
apresentava, não há muito tempo as paredes forradas de azulejos coloridos,
ditos de tapete, e algumas telas de pintura guarnecidas com entalhes dourados
de grande efeito ornamental.
O claustro de proporções
harmoniosas, é considerado por especialistas um belo exemplar da arquitectura
renascentista da região. Datado do reinado de D. João III, apresenta arcos
redondos, colunas toscanas e tectos com
chaves de pedra manuelinas. Nas platibandas e nas torres do edifício
apresentam-se bandeiras de grelhas de tijolo, de gracioso efeito ornamental.
O convento sofreu alguns danos graves com o terramoto de
1755 e, durante as invasões napoleónicas, foi saqueado pelo exército inimigo.
Para além de ser considerado um dos mais ricos Conventos
de Évora, Santa Clara acumula histórias notáveis. A sua igreja, pobre sombra do
que brilhou, foi considerada pelos especialistas, no estilo e no tempo, uma das
mais belas da Europoa, e as histórias de madres adadessas falecidas em «cheiro
de santidade» perdem-se na memória… Como por exemplo a abadessa de 1535 cujo
corpo, rezam as crónicas, muitos anos após repousar em sepultura, surgiu depois
incorrupto, com o suplemento de se apresentar perfumado… como remalhete de
flores !
No inicio do século XX, o Convento de Santa Clara foi o
derradeiro estabelecimento religioso a encerrar as suas portas, com a morte da
sua última madre clarissa que era, também, a última freira de hábito na cidade,
D. Maria Ludovina do Carmo (havia professado em 1833). Aconteceu isto em 9 de
Maio de 1903, embora já em 1900 houvesse sido ordenado pelas autoridades o
primeiro inventário dos bens do Convento.
Esteve todo o edifício alguns anos abandonado, tendo sido
ocupado arbitrariamente por famílias sem abrigo. Entrado num estado de ruína
confrangedor, veio a ser encerrado pelas autoridades. Durante a 1ª Republica
foi entregue ao Ministério da Guerra que aí instalou, de 1911 a 1936, o
Regimento de Infantaria nº.16. Todavia, os militares foram paulatinamente
martirizando o Convento, com adaptações para as sua conveniências, sujeitando-o
a acomodações que lhe provocaram danos irreparáveis. Finalmente, abandonaram o
Convento, devolvendo-o ao Estado e, involuntariamente, à ruína. Anos depois,
foi restaurado e entregue ao Ministério da Educação Nacional (1951),
instalando-se aí a Escola Industrial e Comercial de Évora. Actualmente, a
Igreja que se encontra devoluta, está afecta à Diocese de Évora, e o Convento
propriamente dito, alberga a escola «EB2/3 DE Santa Clara».
Santa Clara e o plano da sua igreja,
conserva a curiosidade de apresentar encaixado na fachada lateral do Paço dos
Lobos da Gama (sobre a Travessa da Molheira) um falso passadiço…
O Convento de Santa Clara, que se encontra no espaço
urbano da denominada «cerca nova», está situado entre a Praça de Giraldo e a
Porta de Alconchel e, podemos dizer, que se recorta como quarteirão
independente no Freguesia de Santo Antão.
O chão, as paredes, os tectos, as cimalhas, o claustro e
a igreja, com o correr do tempo que ali se passou e as vidas recatadas das suas
madres, parecem hoje de pouca valia… De facto, só com a imaginação podemos
ouvir, confusas e indistintas, as vozes e os ruídos conventuais donde emergiram
doces maravilhosos. As freiras que professaram e morreram em Santa Clara foram
muito mais do que aquelas que os registos dão notícia, e houve mesmo casos
paradigmáticos de longevidade, como soror Maria Borges, falecida com 104 anos.
Convento pela nobreza muito apetecido para professar, até ele chegaram os
requintes da doçaria das casas nobres, pelo que se distinguiu nos mimos doces,
de que é exemplo a obra publicada (1988) com o título «Livro de Receitas de Doces e
Cozinhados Vários d’Este Convento de Santa Clara d’Évora, 1729»,
atribuída a Soror Maria Leocádia de Monte do Carmo.
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Nota: Texto base retirado da
obra MONOGRAFIA DA FREGUESIA DE SANTO ANTÃO – MEMÓRIA DE CONVENTOS E MOSTEIROS e da autoria do Dr. Joaquim Palminha Silva
As fotos são de iniciativa da
Direção da Associação de Ant Alunos EICE.
OUTº 2013
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