quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Janeiro

Janeiro
©Joaquim Palminha Silva

Desde muito novo que me senti atraído pelas gentes do campo… Filho da cidade, digo isto sem sentido de menoscabo ou aleivosa pilhéria. Na verdade, os ditos populares, as colecções de adágios e máximas que ouvi de viva voz em Mourão, marcaram de forma sentenciosa toda a minha vida, quando a essa vila ia passar as férias grandes, antes da desgraça económica familiar me ter empurrado para o trabalho precoce, aos 14 anos…

O meu contacto com o mundo rural transtagano, tornou-se quase permanente, recusando eu desde então os “camponeses” políticos de fresca data, os contabilistas e burocratas oportunistas da “reforma agrária”, filhos-família progressistas, politicamente impotentes e fisicamente cobardes, que ainda hoje se passeiam por Évora, de “esquerda “ ao ombro… como se “isso” fosse uma mala da moda…

Previsões de tempo, sentenças de vida, valem para mim mais do que horóscopos de “centro comercial”, além de me desapertarem os intestinos de toda a trampa “intelectual” da moda…

«Diz-me com quem andas, dir-te-ei as manhas que tens!» …

Colhi, pois, das recordações e dos calendários velhos estas sabedorias para Janeiro, que vos ofereço como ramo de violetas:

- Água de Janeiro, todo o ano tem concerto.
- A pescada de Janeiro, vale carneiro.
- Ao luar de Janeiro de conta dinheiro.
- Bons dias em Janeiro, enganam o homem em Fevereiro.
- Coelho de Janeiro, é cavalheiro.
- De Janeiro e Janeiro, o dinheiro é do banqueiro.
- Em Janeiro 7 capelos e um sobreiro.
- Faz teu filho herdeiro onde a neve pegar em Janeiro.
- Janeiro frio e molhado, enche a tulha e farta o gado.
- Janeiro quente, trás o diabo no ventre.
- Obreiro de Janeiro, pão de comerá, mas obra te fará.
- Primeiro dia de Janeiro, primeiro dia de Verão.
- Seda em Janeiro, fantasia ou pouco dinheiro.
- Lua de Janeiro e amor o primeiro.
- Não há luar como o de Janeiro nem amor como o primeiro.

Tudo isto é infantil? – É verdade!

Mas para que sair da infância, se pela boca dos meninos (e dos velhos) se conhece a sabedoria do mundo, tão antiga como a Sé de Braga!

Sem comentários: